A primeira participação olímpica do Brasil em olimpíadas quase não aconteceu em Antuérpia, cidade escolhida para sediar os primeiros jogos após a primeira guerra mundial. Com muito esforço e apoio da Confederação brasileira de desportos (CBD) e do governo federal, os atletas amadores viajaram no navio cargueiro Curvello. Instalações ruins, cabines mal ventiladas, tudo conspirava contra os pioneiros do Brasil. E para piorar, na parada na Ilha da madeira (POR), o comandante do navio reparou que os brasileiros só chegariam a Antuérpia 5 de agosto, duas semanas do início das competições de tiro. Foi aí que Guilherme Paraense, Afrânio da Costa, Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade começaram a sua aventura
Os cinco desembarcaram em Portugal e de trem, iniciaram a viagem para a cidade belga. Mas quando chegaram à fronteira, os atletas do tiro tiveram suas armas confiscadas. Afinal, como explicar que eles estavam indo para as olimpíadas. Com ajuda de diplomatas, cada atirador conseguiu manter uma arma consigo.
Mas o martírio não tinha terminado para o pessoal do tiro esportivo, que teve o seu material roubado em Bruxelas, viu o apoio do governo federal prometido não vir e com isso, só restou pedir ajuda ao Cônsul do Brasil na Bélgica, que bancou alimentação dos atletas.
Mas com poucas armas e munição para treinar, a situação não era boa para os brasileiros do tiro. Mas eles fizeram amizade com os atiradores americanos, que com apoio da fabricante de armas colt, tinham muito material disponível e emprestaram duas pistolas colt, munição e alvos para os brasileiros.
Na competição, veio à tona o talento brasileiro: na prova por equipes, os brasileiros revezaram as duas colts e com um bom equipamento aliado à boa mira, eles conquistaram a medalha de bronze na pistola livre- a primeira medalha olímpica da história brasileira. No mesmo dia Afrânio da Costa conquistou a medalha de prata na pistola livre – a primeira medalha olímpica individual do Brasil.
Mas a glória máxima viria no dia seguinte. Na prova de revólver (hoje chamada de tiro rápido). Guilherme Paraense, primeiro-tenente do Exército, acertou 274 pontos em 300, ficando dois pontos à frente do americano Bracken, um dos que sensibilizaram com os brasileiros e emprestaram munições e armas. Essa foi a primeira medalha de ouro do Brasil e de um país da América do Sul em Jogos olímpicos. E por pouco, tão tivemos uma quarta medalha pois os cinco deixaram o brasil em quarto na competição por equipes do tiro rápido.
Durante os Jogos, os atletas brasileiros demonstraram grande versatilidade. Orlando Amêndola e João Jório, por exemplo, disputaram provas em três modalidades: natação, remo e polo aquático. Outros três nadadores expandiram suas habilidades para mais um esporte além da natação: Abrahão Saliture (remo), Adhemar Ferreira Serpa e Angelo Gammaro (polo aquático). Embora fosse verão na Europa - os Jogos aconteceram em julho -, o frio era intenso e a temperatura da água da piscina registrava três graus no dia da primeira competição.
Por conta da temperatura e da falta de recursos e descanso, já que o restante da delegação continuou a viajar no navio cargueiro, o melhor resultado foi do pólo aquático masculino que terminou em sétimo lugar. No quadro de medalhas, o Brasil terminou em décimo quinto, com uma medalha de ouro, uma de prata e uma de bronze.
Graças às medalhas conquistadas pelo tiro, a delegação brasileira pode voltar em um navio muito mais confortável. Os medalhistas foram recebidos como heróis nacionais, ganhando uma homenagem das mãos do presidente do Brasil na época, Epitácio Pessoa.